É normal sentir mais amor pelo meu cachorro do que pelas outras pessoas?

Se o seu cachorro é seu melhor amigo, não tenha medo, pois você não tem problemas mentais. Apresentamos aqui argumentos para responder a quem assim sugerir.
É normal sentir mais amor pelo meu cachorro do que pelas outras pessoas?
Sara González Juárez

Escrito e verificado por a psicóloga Sara González Juárez.

Última atualização: 28 março, 2024

Você é um dos tutores que já expressou: “O amor pelo meu cachorro é maior do que o amor que sinto pelas outras pessoas”? Certamente sim. E, com grande probabilidade, alguém terá comentado que isso não é normal. Porém, a ciência não diz o mesmo, já que a antropozoologia há muito tempo descartou a patologia dos laços afetivos com outras espécies.

Sentir tanto carinho pelo seu cão é algo lógico pelos benefícios que o animal traz à sua saúde, tanto mental quanto física. Os cães são uma ótima companhia e a maioria é menos irritante que os humanos. No entanto, essas afirmações são apoiadas por dados científicos, então vamos nos aprofundar neles.

Benefícios diretos de viver com animais

Cuidar de um animal desenvolve empatia e senso de responsabilidade. Esses dois fatores contribuem para a criação de um vínculo afetivo tão válido quanto aquele que poderia ser estabelecido com um amigo ou familiar. Essa relação também traz benefícios relatados pela ciência:

  • Redução do sentimento de solidão: as interações positivas diárias com um animal reduzem a sensação de solidão, conforme detalhado na pesquisa publicada no Colombian Journal of Livestock Sciences.
  • São uma fonte de apoio nos piores momentos: os pesquisadores também descobriram que, durante uma doença mental crônica, a presença de um animal na vida do paciente resulta no alívio dos sintomas.
  • Redução da ansiedade e da depressão: a redução da ansiedade simplesmente ao acariciar um animal, independentemente da espécie, foi determinada após experimentos, como o detalhado em um estudo publicado na revista Anxiety, Stress, and Coping.
  • Encontrar um propósito vital: sim, especialmente para adultos mais velhos. Uma publicação de 2019 na revista Aging & Mental Health descobriu que cuidar de um animal ajudou as pessoas a se socializarem melhor e a aliviar sentimentos de falta de propósito e significado na vida.

Todos esses benefícios surgem do estabelecimento de um vínculo positivo entre humanos e outras espécies. No caso específico dos cães, foi encontrada uma vantagem adicional: ao promoverem uma vida menos sedentária, atuaram como fator de proteção contra doenças coronárias.

Mulher mais velha abraça seu cachorro, em sinal de amor por ele.
Compartilhar a vida com um animal de estimação influencia positivamente a saúde mental dos idosos. Crédito: Wavebreakmedia/iStockphoto.

A influência da cultura na percepção do amor pelo seu cachorro

Então, como há pessoas que consideram que não é normal sentir mais amor pelo seu cachorro do que pelas outras pessoas? Embora os benefícios acima sejam mais do que estudados e confirmados pela ciência, ainda existe uma vaga noção na opinião popular de que esse fenômeno é um tanto patológico. Costuma-se afirmar que as pessoas que têm um vínculo emocional profundo com seu cão o utilizam como um substituto para seus relacionamentos intraespecíficos.

A barreira cultural que se ergue entre o homem e o resto das espécies (antropocentrismo) cria a sensação de que quem estabelece vínculos com animais não humanos sofre algum tipo de patologia ou déficit de socialização.

No entanto, estudos, como o publicado na Revista Argentina de Ciencias del Comportamiento , mostram que os cães e outros animais domésticos têm um papel próprio na família, e não são um substituto. Na verdade, influenciam a dinâmica familiar e as formas de conviver. Portanto, se você sente mais amor pelo seu cão do que pelas outras pessoas, fique tranquilo, pois não há nenhuma patologia nisso.

A exploração animal e o reconhecimento da sua identidade individual

Se olharmos ao nosso redor, descobrimos que a relação entre os humanos e outras espécies é, em grande parte, utilitária, como nos seguintes casos:

  • Pecuária
  • Zoológicos
  • Cães pastores
  • Animais de terapia

Em quase todos os contextos, os animais nos servem. Isso se estendeu, em sue momento, aos animais de estimação, concebidos como animais que serviam para fazer companhia ou atuar como tutores, e não como membros da família.

Porém, como mencionamos no início, lidar com outras espécies possibilita o desenvolvimento da empatia. E isso, por sua vez, permite ao ser humano compreender que os animais têm personalidade própria e que a interpretação, através do seu comportamento, não difere muito do que se passa na nossa cabeça. A conclusão é comum à maioria das pessoas: o reconhecimento da sua individualidade.

Os cães são um caso muito representativo desse processo. Sendo uma espécie moldada ao longo de milênios para coexistir com os humanos, eles desenvolveram uma capacidade especial de comunicar conosco, o que facilita a criação de um vínculo estreito tão válido como aquele que se estabelece com um amigo humano.

Consequentemente, você não deve se alarmar se for uma das pessoas recriminadas por dizer: “O amor pelo meu cachorro é maior do que o amor que sinto pelos outros”.
Jovem balança a cabeça com a do cachorro.
Possuir animais de estimação aumenta a empatia emocional. Crédito: standret/iStockphoto.

Pode ser preocupante sentir mais amor pelo meu cachorro do que por outros humanos?

Embora o vínculo que você estabelece com seu cão não seja algo que deva fazer você pensar que tem um transtorno mental, a forma como você se relaciona com ele pode ser um indicador de sofrimento psicológico. Por exemplo, se sair com seu grupo de amigos lhe causa muita ansiedade e você não faz isso há algum tempo, refugiando-se em passar tempo com seu cachorro, é possível suspeitar que essa ansiedade requer ajuda profissional.

Porém, o problema não é amar muito o seu cão, e sim lidar com um desconforto psicológico que não tem cura. Portanto, se em algum momento você detectar esse sofrimento, não duvide que seu cão o ajudará a superá-lo, mas é mais do que recomendado que você resolva o problema com a ajuda de um psicólogo.


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